Em 1849 Fiódor Dostoiévski vivenciou uma catástrofe pessoal: detido por motivos políticos, foi condenado a trabalhos forçados e perdeu seus direitos civis. Ficou recluso na chamada Casa dos mortos, presídio siberiano onde eram mantidos os criminosos mais temíveis da Rússia, e lá conheceu a degradação humana em todas as suas nuanças horripilantes. Em 1860, quando ia retomar a carreira literária ao término de sua pena, essas trágicas experiências inspiraram-lhe uma verdadeira obra-prima: Memórias da Casa dos mortos. Estabelecendo neste livro um sutil paralelo entre a sua história íntima e a de tantas outras vítimas da cadeia russa, Dostoiévski inaugurou uma longa e caudalosa corrente de “memórias do cárcere” cujos representantes até hoje são direta ou indiretamente influenciados por ele.