Em O homem que ri, o leitor depara-se com a infância do pequeno Gwynplaine, na Inglaterra dos fins do século XVII. Os comprachicos, traficantes de crianças, mutilam o menino órfão, transformando-o em um monstro quando lhe cortam os dois lados da boca, com o propósito de transformá-lo em atração nas feiras e circos, abandonando-o à própria sorte.

Nos nossos dias, é impossível não recorrer ao mestre e constatar o que subjaz na reflexão de Gwynplaine: “é do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos.” Como, em 150 anos após a sua publicação, a contemporaneidade da narrativa é tão tangivelmente real? Ricos e pobres, a aristocracia inglesa e os desafortunados socialmente são levados ao leitor em mais uma obra-prima de Victor Hugo.