Um dos romances mais impactantes de Dostoiévski, Os demônios não chega a rivalizar em badalação com Crime e castigo ou Os irmãos Karamázov e tem provocado, desde o seu lançamento na década de 1870, uma porção de polêmicas acirradas. Esse aparente paradoxo explica-se pelo fato de serem discutidos nele, com absoluta franqueza, diversos temas sensíveis: a revolução social e o extremismo político, a negação dos valores tradicionais e o uso de violência “para o bem da humanidade”, entre outros, nem sempre fáceis e agradáveis de discutir. Tomando por base um acontecimento real que havia chocado a sociedade russa, o autor criou uma trágica profecia literária, subestimada ou apenas incompreendida pelos seus contemporâneos, mas comprovada por todo o decurso da história universal no século XX. E não se limitou a mostrar aos leitores o perigo mortal da “demonização” do processo histórico como também lhes ofereceu uma das maiores obras das letras cristãs que jamais existiram. Pôs os extremos do mundo — o amor e o ódio, a fé e a descrença, a humildade e a soberba — sobre a balança de sua filosofia, deixando a escolha final com quem viesse a ler Os demônios